sexta-feira, 6 de maio de 2011

Alberto

O Alberto gosta de saber com o que pode contar. Nunca esquece o guarda-chuva quando há nuvens no céu. Nunca sai de casa sem verificar 3 vezes se trancou a porta.
O Alberto é daqueles tipos que gostam de receber meias no Natal. Afinal um par extra de meias dá sempre jeito.
Lá no trabalho as colegas adoram-no. É prestável, educado, segura sempre a porta para passarem. Um autêntico cavalheiro. Os colegas também gostam dele. Mas menos. Afinal nunca alinha nas conversas sobre futebol ou mulheres.
O Alberto é um tipo com a vida controlada. É um descanso.
Numa noite de chuva, já eram 9 horas, está o Alberto na paragem do autocarro à espera do 58 que nunca mais chega. Espera, espera e começa a ficar irritado. Sabe que não devia ter ficado a trabalhar até tarde mas não consegue dizer que não a ajudar uma colega, afinal não tem ninguém à espera em casa. Mesmo assim esta espera, há já 30 minutos que espera, está a deixá-lo irritado.
Vâ aproximar um sem abrigo.
- pronto só me faltava mais esta, lá vem um pedir dinheiro. Avisou logo- Não tenho trocos para lhe dar. Num tom educado, claro, que o Alberto não gosta de ser mal educado. O sem abrigo continua a aproximar-se e o Alberto sem paciência. Mas é nessa altura que a sua vida muda. O sem abrigo explica ao Alberto que não quer dinheiro, nem sequer comida, que só quer um abraço numa noite de chuva. Nada mais. Ou isso tudo. E é nessa altura que o Alberto perde o controlo da sua vida. Ou que o encontra, finalmente.