sexta-feira, 27 de maio de 2011

Há pessoas montanha-russa. Para cima e para baixo. Para cima e para baixo. Isto de ser pessoa montanha-russa não deve ser fácil. Se calhar até devia dizer que não é nada fácil. E devia dize-lo porque às vezes, mas só às vezes, ok várias vezes, eu sou uma pessoa montanha-russa.
Há vários géneros de pessoas. As pessoas "deixa lá mas é ver os barcos a passar", as pessoas "olha que umbigo tão bonito tenho eu", as pessoas "o meu sonho é ter uma Montblanc", as pessoas "borboletas e passarinhos", enfim, vários. O meu tipo é decididamente, e tenho que o admitir, montanha-russa. Quando posso, pois claro. Que até as pessoas montanha-russa tem momentos de seriedade e verdadeiro entendimento da realidade. E se o verdadeiro entendimento da realidade é difícil de conseguir. Difícil de entender e difícil de suportar. Principalmente quando a vontade é virar a realidade ao contrário. Sim, porque é assim, mas e se não fosse? Se não fosse não sabem. Pois não sabem. Mas o pior é que nem querem saber. E se calhar podia ser tão bem melhor. Ou pior. Ou igual. Mas também o que interessa? O que interessa sempre é que pode ser de outra maneira. Que existe sempre um plano B. Eu adoro planos B. Muitas vezes os meus planos B transformam-se em planos A mas ai arranjo um plano C. O que importa é ter sempre um caminho. Um caminho novo. Um sitio por onde ir. Para nos acharmos ou nos perdermos. Mas um caminho. Eu adoro caminhos. Novos de preferência. Detesto coisas que já foram, caminhos já corridos. Gastos e usados. É como ver a RTP memória. Já passou, já conhecemos o futuro para quê olhar para o passado. Ah porque se aprende com o passado. Pois muito bem, mas então que se aprenda depressa. Bem se calhar nem sempre conseguimos. Mas depressinha, que o que lá vai lá vai. Já foi.

À conta disto às vezes encafuo as coisas com uma tal pressa que nem dou por isso na altura. Depois tramo-me. Que as coisas aparecem do nada e me dizem: "achavas que tinhas fechado bem a gavetinha? pois é o que dá arrumar à pressa, não fechaste". E ai pimba. Sou apanhada na curva. É nestas alturas que me apanham na parte de baixo da montanha russa. Mas como a montanha não parou, não tarda a subir outra vez. E lá fecho a gaveta como deve ser. E lá vai o carrinho a subir montanha acima.

É claro que isto cansa. As pessoas "deixa-me lá estar aqui de papo para o ar a olhar o azul do céu" têm a vida que é uma jóia. Do melhor. Qual para cima e para baixo, qual quê. Sossegadinhos à espera do que está para vir. Pois mas isto de ser pessoa A, B ou C não se escolhe. Nasce connosco e não há nada a fazer. Ou muito pouco. As montanhas russas podem passar a ser mais pequenas e menos inclinadas mas nunca ficam planas. E, quanto a mim, ainda bem.