sexta-feira, 8 de julho de 2011

Uma bicicleta vermelha, com um selim amarelo e um cesto preto na frente.
Todos os dias via passar aquela rapariga naquela bicicleta. O engraçado é que todos os dias a via quando estava em sitios diferentes. Às vezes passava no exacto momento em que estava a abrir a porta de casa, outras quando estava a sair de manhã, às vezes até quando estava sentado com uns amigos a beber um copo.
E era sempre a mesma rapariga, que eu para além de me lembrar do vermelho da bicicleta, do amarelo do selim ou do cesto preto na frente, lembro-me dos seus cabelos, da cor do fogo. Compridos e ardentes ao sol.
Como não compro coincidências comecei a achar estranho. A rapariga dos cabelos cor de fogo e da bicicleta vermelha começava até a aparecer-me em sonhos. Senti que tinha de saber mais sobre ela. Arranjei uma bicicleta. Uma bicicleta azul, com um selim verde e sem cesto à frente. Como não sabia quando ela ia aparecer tive que começar a andar de bicicleta. Ia de bicicleta para todo o lado e ao final de uma semana ela apareceu. Como não estava à espera, tive de subir à pressa para a bicicleta para não a perder. E lá fui eu. Atrás dela e da sua bicicleta vermelha de selim amarelo. Pedalámos e pedalámos até que parámos em cima de um monte. Eu nem tinha percebido que tinha conseguido subir aquele monte a pedalar uma bicicleta. Mas lá estávamos os dois com as nossas bicicletas no cimo do monte. Olhou para mim e para a minha bicicleta azul de selim verde. Perguntou-me porque é que não tinha um cesto à frente. Expliquei-lhe que as bicicletas dos rapazes não têm cestos à frente. Olhou para mim espantada. Não têm? perguntou-me. E agora onde levas todos os segredos que tenho para te contar? Disse-lhe que não fazia mal. Que não são precisos cestos de bicicleta para guardar segredos. Que os segredos depois de partilhados se transformam na poeira que só se vê à luz do sol. Ela acreditou em mim e pediu-me que espreitasse para dentro do cesto preto da bicicleta vermelha dela. Quando olhei para os segredos que trazia vi um monte de bolas de pingue-pongue vermelhas. Olhei, espantado, para ela. Ela esperou que eu visse melhor. E, de repente, no meio das bolas de pingue-pongue vermelhas encontrei uma boa azul. E descemos o monte lado a lado.