Quantas barreiras temos nós?
Cada um de nós?
Com quantos muros nos conseguimos proteger?
Não tem a ver com o que dizer
Tem a ver com o sofrimento incalculável que se pode sentir
Tem a ver com ter tudo despedaçado cá dentro
Destruído
Completamente morto e acabado
porque não se sabe avançar desta maneira
Tem a ver com vir um dia e outro e outro
e a realidade não se alterar
e ter de viver com esta realidade que não se quer aceitar
e ter de viver da mesma maneira quando nada pode ser, outra vez, da mesma maneira
Quando há perdas que são incalculáveis e que fazem morrer uma parte de nós
Porque não somos compostos só por nós
Somos compostos por todas as pessoas que nos pertencem
e morrer uma delas é morrer-nos um bocado
como ficar sem um braço ou uma perna para andar
E a ideia horrível de ser para sempre
e de não haver volta a dar
A ideia horrível do fim
do ser assim e pronto
e do termos que aceitar
A ideia horrível de mesmo assim termos de continuar
porque para nós ainda não acabou.