quarta-feira, 25 de maio de 2011

Era assustador. De repente todos estavam iguais. Ao mesmo nível. O zé já tinha sido avisado. Sabia bem ao que ia. Mas mesmo assim, não queria acreditar. Caras por todo o lado. A entrarem pelos olhos dentro, pela cabeça dentro. Caras conhecidas e desconhecidas. Pessoas estranhas completamente banais. A invadirem o ecran à frente dele. De repente viu-se sozinho no meio de uma multidão de pessoas que supostamente o conheciam. Ou conheceram. Ou vão conhecer.
O zé achou tudo um bocadinho estranho. De repente aquelas pessoas de quem ele não ouvia falar há que tempos apareciam-lhe à frente. Não lhe apareciam só à frente, invadiam o olhar. Cobriam o ecran. Introduziam-se na sua vida. Já lhe tinham dito que ele podia ser só amigo de quem quisesse. Mas para o zé o conceito de amizade não é bem esse. De quem se quisesse? Ou se é amigo ou não. Amigos verdadeiros quase nunca são escolhidos. São como os amores. Existem independentemente do que possamos achar deles. Para o zé a amizade era assim. Ainda se aquele emaranhado de gente quisesse ser conhecido dele... Mas amigo. Amigo era muito para o zé aceitar assim de repente, da primeira vez que aquilo lhe entra pelos olhos adentro. Mas bem, o zé achou que o melhor era não dramatizar. Afinal isto é uma coisa normal, banal, que toda a gente usa. O anormal é achar a isto anormal. Afinal nos tempos em que vivemos temos todos de nos ligar assim. Como amigos. Mas o zé está-se pouco a marimbar para o que é normal ou anormal. Para o que é bem aceite e para o que é olhado com estranheza. O zé quer continuar a ver as coisas como sempre viu. Não que com isso ache que é antiquado ou que esteja ultrapassado. Mas para o zé existem valores que não mudam. Ou que não devem mudar. E a amizade é um deles. O zé por mais que queira não vai conseguir chamar aquelas pessoas amigos. Não se vai habituar a isso.
Depois, serem todos iguais. Uma amalgama de gente diferente toda igual. De óculos escuros, na praia, com os filhos, a mostrar só uma parte. Tudo igual a querer desesperadamente parecer diferente. A querer marcar a diferença. Para serem escolhidos. Para cativar o olhar. Para despertar a curiosidade. Para quê? pensou o zé. Para coleccionarem amigos?
O zé ainda não entende. Pode ser que um dia venha a compreender. Quem sabe até a aceitar. Por agora tudo lhe causa ainda alguma estranheza.
Ainda assim decidiu arriscar.