terça-feira, 17 de maio de 2011

Luís I

E lá vinha ele de mota. O Luís. Com o contentamento estampado na cara. O contentamento de quem tem um brinquedo novo para brincar. Assim vinha o Luís.

Para o Luís a vida é assim agora. Como um Lego para construir. Com muitas pecinhas, com imensas possibilidades. E sem pressa de terminar. Um Lego que se vai construindo e destruindo à medida das vontades. Dos apetites. Dos quereres. Do espaço. Que é dele e que ele faz questão de proteger com unhas e dentes. Como quando encontramos um tesouro há muito perdido. Há muito esquecido. Tão esquecido que até já não lembrávamos porque nos era tão importante. Quando o reencontramos percebemos. Novamente. A importância que tinha. A importância que tem. E porque nos é tão caro. O mesmo aconteceu com o Luís e com a sua vida. A sua. As suas vontades. Os seus quereres. Os seus apetites. O seu espaço. Ele redescobriu isso tudo. E gosta muito. De ser ele. As escolhas dele. Por ele. Para ele.

O Luís sabe que não vai ser sempre assim. Acha que vai haver uma altura em que esta necessidade não vai ser tão intensa. Acha. Porque ainda não consegue ter a certeza. Agora não. Agora o que reencontrou é demasiado importante para desviar o olhar. Para permitir divisão de atenções. Chega a haver alturas que se distrai. Em que o olhar muda um bocadinho de rumo. Mas isso não acontece durante muito tempo. Afinal o Luís tem de defender o seu tesouro. É que ele não sabe se o que encontrou não volta a desaparecer. Se o perde novamente. E depois de perceber a importância que tem, o Luís não quer correr esse risco. Não pode. Afinal é ele que está em jogo.